9 de dezembro de 2011

a elena buscalavida

lavadoiro do rio do com, em vila-garcia, onde tinha o seu lugar elena buscalavida



quando publiquei o poemário [de]construçom, dediquei-lho com um verso às casas das que provenho, e que sempre encontram um momento na quotidianeidade da vida familiar para agromar:

venho das eiras de portaris dos arines

na casa dos meus avós de cea sempre corremos o risco de ser colocados na casa das eiras, a do meu avô, pois era essa a parte neura da família, com uma bisavó de significativo alcume bruxa má.
por contra, a minha avó glória contava de contino estórias da casa grande de portaris, casa perdida e de ausência lamentada.
eu e meus irmáns criamo-nos também com a cantilena de possuir um apelido raro, em perigo de extinçom: esse arines que eu des-deturpei em arins.

e foi aí que notei a falta duma casa. 

porque a minha outra avó, a mai da minha mai, nom tinha casa nomeada, e bem sabemos que quem nom tem nome, nom existe.
elena buscalavida foi lavandeira e tivo uma filha das silveiras, de arrimo. lavou panos, lenços e roupas alheias para manter essa menina que é minha avó. porém, o feito de ter sacado adiante uma filha sem ajudas e com um trabalho duro como o de lavandeira, em vez de ser motivo de orgulho era em realidade um tabu familiar. era um assunto que nom se falava nas sobremesas e sim em secreta rexouba. pouco mais sabe minha mai da sua avó e das suas circunstâncias vitais.

a minha bisavó é uma mais das muitas mulheres, que merecendo ser conhecidas, fôrom apagadas da história.  e tanto tem se essa história é a grande ou uma das pequenas, a história de um país ou duma família, a duma profissom ou a duma paróquia.

e foi para ela, para a sua memória e a de todas as outras mulheres sem nome, que eu escrevim este livro.

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